sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Cancelamento precipitado do Dakar
dá vitória ao terrorismo

No dia em que o Lisboa Dakar se preparava para iniciar a 30º edição, o responsável pela empresa organizadora do evento anuncia o seu cancelamento.
Uma eventual ameaça de atentado terrorista contra a caravana do Rally Dakar, na passagem pela Mauritânia, foi a razão apresentada pela organização para justificar o seu cancelamento.
A anulação de etapas da prova tornou-se uma constante. Em anos anteriores, foram várias as edições em que tal atitude se tomou, mas nunca se optou pelo cancelamento total da prova. Não terá sido esta uma decisão precipitada?
Conhecida há alguns dias, ou até meses, a situação que se vivia na Mauritânia, a organização teve tempo para mudar o percurso do Dakar ou pensar num plano B, possível de ser utilizado. Em último caso, estando a insegurança presente na passagem pela Mauritânia, a prova poderia ter terminado o seu percurso em Marrocos. De qualquer forma, a Mauritânia tinha também reunido duas centenas de militares para garantirem a segurança da prova e dos seus participantes na passagem por essa região.
Os prejuízos do cancelamento são incontáveis e impossíveis de reembolsar. Há pilotos que pouparam o ano inteiro para realizarem um sonho. Desde câmaras, a empresas patrocinadoras e até ao turismo em Portugal são vários os prejudicados pelo cancelamento.
E a opinião dos pilotos não conta? São eles as figuras principais do Dakar, deviam ter uma palavra a dar.
Esta atitude levou à vitória do terrorismo. Estão assim a dar espaço para que o terrorismo interfira ainda mais na vida e nas actividades que as comunidades desenvolvem.
Em 2009 supõe-se a continuidade do Rally Dakar, mas se uma nova ameaça de atentado surgir, por este andar, não voltaremos a ver mais nenhuma edição do maior rally do mundo. A organização deu vitória ao terrorismo e pode ter tornado o Dakar dependente desta ameaça.

Sara Pereira
3º Comunicação Social

Mal tratados!

Pronto! Acabou mais um tabu na política portuguesa. O Governo decidiu: o Tratado da União Europeia, vai ser ratificado no Parlamento e não em referendo.
O primeiro-ministro, José Sócrates, invocou um “princípio de solidariedade” para com os seus parceiros do Velho Continente. O chefe do Executivo, pressionado, alinhou no receio dos restantes líderes europeus, que tremem com a possibilidade do Tratado assinado em Lisboa levar o mesmo destino do defunto Tratado Constitucional.
O referendo seria um risco, que Sócrates não quis correr. Os portugueses poderiam ser tentados a avaliar a actuação do seu Governo e não o Tratado, que poucos sabem o que é, a que se destina, para que serve.
Convenhamos que Sócrates até tem a seu favor a pouca participação nas consultas populares anteriores, sobre outras matérias, e é, igualmente, conhecida a pouca apetência nacional pelas questões europeias.
Todavia, a opção governamental está longe de ser aceitável.
O Partido Socialista estava “amarrado” à promessa eleitoral de ratificar por referendo o tratado europeu. (Dizer, sr. primeiro-ministro, que o compromisso respeitava ao “Tratado Constitucional” e este é de “Lisboa” é tentar iludir uma realidade que se sabe quase igual. É tapar o Sol com a peneira. Fica-lhe mal!). Rasgou-a!
Com esta decisão, o país perdeu uma excelente oportunidade de discutir o projecto europeu. Os portugueses nunca disseram de sua justiça o que pensam sobre algo que acabou por mudar as suas vidas. Era a hora.
Era a altura de explicar as vantagens de “estar” na Europa. A união monetária, o euro, que tanta carteira vazia tem deixado. Os milhões que chegam todos os dias para investimentos e que poucos vêem. Era uma excelente oportunidade para debater e “convencer” das vantagens de tudo isto. Mas não. Prevaleceu a solidariedade inter-pares, em detrimento da “autonomia” nacional, do esclarecimento.
No dia do referendo, os portugueses não trocariam, por certo, uma tarde num qualquer centro comercial, por uma ida às urnas, contudo, a campanha eleitoral ajudaria à “integração”. Os políticos, do bloco central – é bom dizê-lo-, acham que é melhor assim. Quando mais ignorantes, menos interesse em perguntar sobre matérias para as quais, porventura, não há resposta. Esta, por exemplo: Até onde a União Europeia nos vai levar? Se é que nos vai levar algures…

Luís Melo
3º Comunicação Social

Economia mundial à beira da ruptura

Novo ano, novo aumento do preço dos combustíveis. O povo reclama e a comunicação social aproveita para explorar o acontecimento pela sua relevância, pelo impacto que tem na vida das pessoas. Regateamos, apontamos culpados e nem sempre nos apercebemos que este aumento esconde um problema mais grave: a escassez do petróleo, o bem essencial sobre o qual assenta a economia mundial.
Vive-se na ilusão de que este é um bem infinito, quando afinal é um recurso à beira do colapso. As reservas da Sibéria Ocidental vêem o seu fim para breve e os campos de petróleo do Mar do Norte e do Texas estão esgotados; os do Canadá, Rússia e Noruega encontram-se em declínio. Até a reserva da Arábia Saudita está prestes a atingir o pico de produção, o que significa que depois entrará em declínio. Tenhamos noção de que, sendo este o maior produtor de petróleo, se ele acabar, o mundo fica sem energia.
Sem petróleo não podemos ir para o trabalho; o transporte de bens e matérias-primas pára, conduzindo, consequentemente, ao encerramento das fábricas que sem matéria-prima não funcionam; o cancelamento da produção e distribuição de produtos leva à paralisação da economia. Neste cenário as empresas encerram, as pessoas são despedidas, perdendo o meio de subsistência; o transporte de alimentos estaciona, trazendo a fome e o desespero; rompe-se a ordem pública que culmina em motins e pilhagens. Instala-se o caos.
Confrontados com esta previsão, talvez deixemos de nos preocupar tanto com os aumentos dos combustíveis e comecemos a pensar em soluções viáveis, nomeadamente no investimento em energias alternativas (mais baratas e menos poluentes).
Incomoda-me esta descontracção por parte de todos, especialmente da comunicação social. Responsável pela alimentação da opinião pública, além de dar conhecimento dos problemas devia também apresentar as causas e as possíveis soluções (que já existem). Incomoda-me que andemos a levitar quando este é um problema que vai afectar todos, sem excepção. Incomoda-me saber que é a corrida a esse magna da energia que está por detrás de guerras (a do Iraque é disso exemplo) e de mortes e que a política, o capitalismo, o egocentrismo e o “Bushismo” sejam um entrave ao desenvolvimento de novas energias.
E assim vamos vivendo preocupados com o que realmente interessa, como o possível relacionamento de Hugo Chávez com Naomi ou a transferência de Hélder Postiga para o Panathinaikos por quatro milhões. O petróleo? Oh, que tem o petróleo?!

Diana Andrade
3º Comunicação Social

Fumo e cismo

Resolução de Ano Novo (bem ao estilo do “Diário de Bridget Jones” ): não acender um cigarro se não me encontrar ao ar livre.
A lei antitabagismo “entrou a matar”. De um momento para o outro, tudo mudou radicalmente. Agora, antes de sair de casa para ir beber um café e fumar tranquilamente um cigarro, todos os fumadores têm de consultar o blogue de Francisco José Viegas, tal como se consulta os horários antes de ir para a estação de comboios. A diferença é que se não apanharem um comboio, sempre podem ir no seguinte, enquanto que se, por ventura, tiverem o azar de se deparar com a porta desse (raro) café fechado, provavelmente não poderão entrar na porta ao lado.
Os fumadores que conheço, na sua maioria, queixam-se de discriminação, uma espécie de “nova xenofobia”. A lei não conseguiu encontrar um equilíbrio que se baseasse num respeito mútuo. Os direitos dos não fumadores estão assegurados. Os fumadores têm o DEVER de não incomodar, o DEVER de respeitar a saúde pública, o DEVER de respeitar os outros.
Os argumentos são sempre os mesmos e a conclusão recai quase sempre num encolher de ombros indiferente, seguido da frase que parece estar mais na moda: «Lá fora também é assim e ninguém morreu». Vamos então seguir os exemplos lá de fora e deixar os nossos belos carros nas garagens, prefiramos as bicicletas! É nosso dever não poluir o ar que respiramos! Sigamos os exemplos lá de fora e instalemos um sistema de saúde como o francês. Não. A nossa política é encerrar, todos os dias, serviços novos nos hospitais. Agora as pessoas já não fumam passivamente, já não ficam tão doentes. Tantos hospitais? Não é preciso.
Sou uma fumadora em “processo de libertação”. Respeito o direito dos outros desde que o meu também seja respeitado. Até posso passar uma tarde inteira sentada num café e não me custa nada não acender um único cigarro…mas gostava de ter liberdade para decidir.
Apesar de tudo, acabo por ter que me render às evidências. «Lá fora ninguém morreu». O ser humano é feito de hábitos. A lei não vai recuar. Pode mudar, um pouco, mas nada mais. Havemos de acabar por nos habituar. E integrará a nossa normalidade.
Encaremos o cumprimento da lei como mais uma das resoluções para este novo ano. Bem ao estilo Bridget Jones. Não são impossíveis, por mais que assim pareçam. Apenas depende de cada um. Da forma como encaramos as mudanças. E do tempo que levamos a nos habituar a elas...

Vânia Furet
3º Comunicação Social

Irão
Uma guerra anunciada

Ao afirmar, em Abu Dhabi, que o "Irão é a maior ameaça à paz", George W. Bush contribuiu para aumentar o clima de medo no Médio Oriente e as manifestações contra o Ocidente. O presidente norte-americano, ao deslocar-se à região, procura apoio político, sobretudo, dos velhos inimigos do Irão, como é o caso de Israel. A sua intenção é deixar Teerão totalmente isolada, sem apoio dos seus vizinhos. De modo a ser facilmente aniquilado por uma forçada coligação ou, apenas, por militares norte-americanos.
Em vez de optar pela resolução do conflito por via diplomática, George W. Bush parece ter vontade de resolver mais este problema através da força e da guerra. Para o Sr. Bush, pegar em armas e bombardear os outros países, de preferência ricos em recursos naturais, é a solução mais acertada...
A paz no Médio Oriente só iria trazer prejuízos aos EUA. Onde é que os norte-americanos iriam buscar o petróleo para alimentar a sua brutal economia? Não teriam países para explorar e para prometer protecção em caso de conflitos. Em troca, os seus aliados oferecem este precioso líquido.
Nem os EUA nem outro país qualquer deveria entrar no Irão sem ter provas da existência de armas nucleares. Penso que a solução passa por voltar a enviar inspectores da ONU que investiguem se estas existem ou não, mas, desta vez, convém “dar-lhes ouvidos”.
Porque o caso do Iraque ainda está fresco na memória. As alegadas armas nucleares nunca apareceram e, depois da invasão, constatou-se que havia, apenas, um exército fraco e muito mal treinado.
O mundo não pode cair no mesmo erro, o mundo não pode deixar os EUA serem o juiz que condena quem deseja. Está na hora da Europa ter um papel mais activo no combate aos problemas globais.

Álvaro Bastos
3º Comunicação Social

Baixa temporada

A música no rádio corta o silêncio no fim de mais um dia de trabalho em que pouco houve para fazer. Celso Baía, dono de uma loja onde se vende de tudo, arruma umas tendas de campismo, enquanto lamenta a concorrência da Decathlon. “Comprei tendas para vender a trinta e poucos euros, nunca tive coisas tão baratas e chego lá e vejo tendas de montagem rápida a dezoito e a vinte euros”, diz, murmurando: “Não há hipótese, não há hipótese”.
A baixa que em tempos já foi o grande centro de comércio em Coimbra está “morta”, diz Celso Baía, que ainda se lembra de andar na rua da Sofia e de não conseguir passar porque “eram centenas e centenas de pessoas”. A situação é bem diferente daquela que conheceu quando veio trabalhar para a loja que o pai comprou “três semanas antes do 25 de Abril”. As pessoas já não param, as ruas já não estão a abarrotar e a baixa tornou-se num ponto de passagem. Olham para as montras mas as lojas continuam desertas.
“Nos shoppings está quentinho, há estacionamento e estão abertos ao domingo”, explica o comerciante, cada vez mais desiludido com o negócio. 2007 foi o ano "pior de sempre”, afirma, acrescentando: “Se um chinês vier para me comprar a loja, vendo-a ao desbarato”.

Um comércio à antiga

“Nós aqui ainda olhamos para as pessoas não como clientes, mas como amigos", diz Arménio Pradas, dono da Sofimodas, profissão que reparte com o cargo de presidente do sector comercial da Associação Comercial e Industrial de Coimbra (ACIC). Defensor da viabilidade do comércio tradicional, Arménio Pradas gaba-se, sorrindo, de ter clientes que passam pela sua loja apenas para conversar.”Eu nem lhe pergunto se ele quer comprar alguma coisa ou não”, afirma, enquanto vai cumprimentando quem entra na loja. É essa a maior diferença entre os shoppings e o comércio tradicional, considera. Defende mais apoio estatal, porque “por mil postos de trabalho precários que se criam num centro comercial são dez ou quinze mil trabalhadores do comércio tradicional que vão embora”.
Com a abertura de mais centros comerciais, a quota de mercado do comércio tradicional, que agora é de 12%, daqui a quatro anos vai para os 6%, aventa, indignado, defendendo que a única solução para garantir a sobrevivência do comércio na baixa é a criação de uma carta de comércio, um documento onde se impõem regras quanto à diversificação de estabelecimentos comerciais.”Numa rua onde há por exemplo cinquenta sapatarias não pode haver mais nenhuma, se ficar vago um espaço deve ser ocupado por outro ramo comercial”, exemplifica o membro da ACIC.

Aguentando o barco

Quem olha para Manuel Magalhães vê as marcas de mais de quarenta anos de trabalho. O rosto sorridente disfarça a mágoa pela situação da baixa. Manuel Magalhães recorda o dia em que herdou a sapataria Reis dos padrinhos, na altura em que os sapatos ainda eram comprados para durar uma vida. "Não se vende nem um terço do que se vendia” afirma, atarefado, enquanto ajuda um fornecedor a descarregar mais uma remessa de sapatos que devem ficar nas prateleiras como tantos outros. O negócio, que vai mantendo com a ajuda da filha, já não é o que era porque “as grandes superfícies vieram absorver tudo e depois vieram os chineses”.
O futuro é incerto para este comerciante, não sabe até quando poderá ter a loja aberta. Percorrendo a loja com o olhar, desabafa: “Vamos aguentando o barco”.

João Pedro Sismeiro
3º Comunicação Social

Condenados à morte

São dezenas os animais abandonados numa estrada que atravessa a floresta entre as praias de Esmoriz e do Furadouro. Um lugar sem casas, longe dos olhares de reprovação e que dificulta o regresso dos animais aos “seus” lares.
Romeira, professor de Educação Física, residente em Esmoriz, é a esperança destes animais que imploram carinho, um tecto e alimento para sobreviver.
Desde muito novo que Romeira dedica o seu tempo a ajudar animais, uma paixão nascida com ele e fomentada pelos pais: “A sensibilidade e carinho que se tem pelos animais é algo que vem da educação e que deve ser adquirido desde pequenino”.
Foi já após ter feito 50 anos que se apercebeu do que acontecia na “estrada da mata”. Como tinha uma loja no Furadouro, passava por aí todos os dias e apercebeu-se que muitos eram os que iam propositadamente "despejar animais”. “Vi montanhas de episódios lamentáveis naquela floresta”, diz, com mágoa.
O local em questão alberga uma lixeira. “Tudo o que ali cai não dura, neste momento, 2 ou 3 meses. Assisti à morte de uma matilha de 22 cães com tosse esgana, menos o chefe do grupo que trouxe comigo e que já devia ter anticorpos”, conta, com tristeza.
Também a mão humana é um factor de perigo para estes animais sem dono. Na floresta, estão sujeitos a caçadores. “Os humanos atiram a tudo”, explica, acrescentando que outra ameaça são as bolas envenenadas usadas para apanhar raposas: “Com o veneno, caem para o lado e não é danificada a pele”. O resto, tem o mesmo destino: “Vai, vai pássaros, vai cães, vai gatos, vai tudo…”, resume. E há quem passe de carro e se divirta a "fazer pontaria" a cães e gatos. Conta Romeira:"Já vi um indivíduo a atropelar três cães, um de cada vez".
Desde essa altura, passa diariamente pela mata. Desloca-se de Esmoriz até ao Furadouro para alimentar cães e gatos que têm a floresta como casa: “Meto comida em 31 sítios todos os dias”, “mas há uma grande concorrência e, este ano, um aumento muito grande de raposas, que também comem”. Os animais já o reconhecem: “Todos ele conhecem a minha carrinha, conhece o gato, o cão e algumas raposas, posso vir a 500 metros que eles conseguem perfeitamente associar que eu venho ali.”
Alimenta actualmente cerca de 100 animais, cães e gatos, algumas dezenas dos quais em sua casa. “Gatos há um monte deles”, diz o professor, que identificou perto de 40 no início de Novembro de 2007. “Mas agora o Inverno está muito rigoroso e não vejo mais do que 20”, diz, lamentando não ver quatro dos seus melhores amigos há uma semana: “Chamo, chamo, chamo e não aparecem”.
O facto de alimentar todos os animais abandonados na estrada da mata tem-lhe trazido alguns problemas com as autoridades. “Um agente da Polícia Florestal ameaçou-me de prisão porque não podia pôr comida aos bichos abandonados”, refere, indignando-se com essa preocupação com a sua “obra de caridade”.
Romeira tem consciência que a lei proíbe a colocação de comida na via pública para alimentar animais vadios. Defende-se dizendo que também, por lei, é proibido abandonar animais: “Só faço isto porque o outro lado não é respeitado e é muito menos grave meter um bocadinho de comida ao pé de uma árvore”.

Filipa Fragoso
3º Comunicação Social





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